RODERICI à CASTRO LVSITANI, PHILOSOPHIAE AC MEDICINAE DOCTORIS. PER EUROPAM NOTISSIMI DE Universa Muliebrium morborum MEDICINA, Novo & antehac à nemine rentato ordine Opus absolutissimum; Et Studiosis omnibus utile, Medicis verà perneceBarium. Pars Prima Theorica. QUATUOR COMPREHENSA LIBRIS. In quibus cuncta, quae ad Mulieres naturam, anatomen, sémen, menstruum, conceptum, uteri gestationem, foetus formationem, et hominis ortum atinente, abundandissimè explicantur. QUINTA EDITIO, AUCTIOR ET EMENDIATIOR. COLONIAE AGRIPPINAE, Sumptibus Servatii Noethen, Ano M.DC. LXXXIX. [1689].

2 partes encadernadas em 1 volume. In 4º [de 19x15,5 cm]. Com [16], 226, [25] + [4], [1 fólio desd.], 524, [44] págs.

Encadernação original da época, inteira de pele, com nervos e ferros ouro na lombada e ferros a seco em ambas as pastas, rolados em esquadrias concêntricas, com motivos geométricos ao estilo quinhentista do norte da Europa.

Ilustrado na segunda parte com uma tabela desdobrável contendo um índice/diagrama das matérias relacionadas dentro da obra.

Exemplar apresentando na primeira parte leves manchas de humidade nas margens de vários fólios. No segundo volume apresenta leve trabalho de traça na parte inferior das margens de alguns fólios.

Tratado de ginecologia muito famoso na Europa do seu tempo.

5ª edição (6ª, segundo Barbosa) desta obra, tendo sido sua primeira edição publicada em Hamburgo, em 1603.

Índice com a divisão da obra em Livros:

1.º Parte: De natura mulierum. Livro I – Quid sit foemina, quaque ratione à viro disideat. Livro II – De semine et mestruo. Livro III – De coitu, conceptu. Livro IV – De partu et lacte.

2.º Parte: De Morbis mulierum. Sive Praxis. Livro I – De morbis cunctis fœminis communibus, Livro II – De morbus, qui viduis, ac virginibus accidunt. Livro III – De Sterilibus. Livro IV – De puerperarum, et nutricum affectionibus.

O Tratado de Ginecologia divide-se em duas partes, a primeira dedicada à descrição da anatomia e fisiologia do corpo feminino, a segunda à patologia e clínica respectiva.

Castro foi extremamente ousado e moderno. Descreve a massagem que se deve dar à parturiente para facilitar o parto e, entre as pessoas que devem estar presentes, recomenda a presença do próprio marido, o que era absolutamente original na época. Os partos complicados são subdivididos em - viciosos, se, sendo normais a criança e a mãe, é a posição em que se apresenta a criança que está fora das regras; - difíceis e laboriosos, se o parto é complicado por qualquer anormalidade da criança ou da mãe (cabeça grande do bebé, bacia estreita, etc.).

No que respeita à posição do bebé, dá a preferência total à posição de cabeça para baixo e só em casos muito excepcionais aceita a extracção pelos pés. Afasta a possibilidade de perfurar a criança que ia nascer, no caso de impossibilidade do parto, já que não considera lícito eliminar uma vida para salvar outra. Nesse caso aceita que o parto seja feito por cesariana. Tem um capítulo inteiro dedicado ao parto por cesariana e chega às mesmas conclusões que o grande divulgador da operação, o francês François Rousset, que publicou em 1581.

Rodrigo de Castro (1550 - 1630) foi um médico português de origem judaica que tomou o nome hebraico de David Nahmias. Nasceu em Lisboa sendo filho do médico André Fernandes de Castro. A sua mãe tinha o apelido Vaz e também era irmã de três médicos. O mais célebre deverá ter sido Manuel Vaz, a quem se refere o autor no 2.º volume desta obra (pág. 47), como tendo sido médico assistente de quatro reis de Portugal: «Memini quidem expertissimum Emanuelem Vaezium avunculum meum, qui ob consumatissimum in arte medica judicium, et peritiam non vulgarem, fuit successive quatuor Lusitaniæ regum, Johannis tertii, Sebastiani, Henrici et Philippi secundi cubicularius medicus».

Rodrigo de Castro foi estudar para Salamanca, doutorou-se e regressou a Lisboa, onde começou a exercer a profissão. O Rei Filipe II de Espanha (1.º de Portugal) pediu-lhe para ir para a Índia seleccionar e estudar plantas medicinais daquelas paragens, continuando as investigações ali feitas por Garcia de Orta e Cristóvão da Costa. Castro recusou alegando que a sua saúde não lhe permitia suportar climas tropicais. Em Maio de 1588 examina os soldados e marinheiros mobilizados para embarcarem na Invencível Armada. Muitos fingiam-se doentes, pedindo-lhe um atestado médico para serem dispensados do serviço militar, o que ele determinantemente recusou, como relata na obra “Medicus Politicus”.

Em 1588, ou no princípio do ano seguinte, Rodrigo de Castro fugiu para Antuérpia, onde ficou durante algum tempo. Por volta de 1591 foi para Hamburgo. Em 1596 irrompeu a peste na cidade e Rodrigo de Castro distinguiu-se nos cuidados que dispensou aos doentes e no combate à doença. Mais tarde, escreveu um livro sobre a natureza e as causas da peste. A asa mulher faleceu em 1603, deixando-lhe filhos pequenos. Nesse mesmo ano publicou este tratado de ginecologia que é e sua principal obra.

A sua fama ultrapassou os limites da cidade de Hamburgo. Foi consultado pelo Rei da Dinamarca, pelo Arcebispo de Bremen, pelo Duque de Holstein e pelo Conde de Hessen. Depois da morte de sua esposa, converteu-se à prática da religião judaica, adoptando o nome de David Nahmias ou Nehemias ou ainda David de Jacob Nehemias. Rodrigo de Castro gozava de grande prestígio junto das autoridades de Hamburgo. Embora os judeus estivessem impedidos de ter casas na cidade, havia uma excepção para Rodrigo de Castro que possuía uma casa por ele construída bem no centro da cidade (Wallstraße). Em carta de 4 de Dezembro de 1617, dirigida aos burgomestres e vereadores da cidade, os dirigentes da Igreja Luterana protestaram contra esse privilégio pessoal e pediram que pelo menos a sua casa se não transmitisse aos seus herdeiros. Não foram porém atendidos. Em 1614, Rodrigo de Castro publicou um livro sobre deontologia médica, com o título “Medicus Politicus” que foi muito apreciado até ao nosso tempo. Rodrigo pôde matricular os seus filhos Bento e André (ambos foram depois médicos) no conceituado Ginásio Johanneum, até aí vedado aos judeus. O autor manteve o seu prestígio intacto e veio a falecer já depois de 1629. Embora muitos autores o dêem como falecido em 1627, a verdade é que Zacuto Lusitano transcreve uma carta que ele lhe escreveu em 16 de Julho de 1629.

 Two parts bound in one volume. In 4º [19x15,5 cm] with [16], 226, [25] + [4], [1 folded folio], 524, [44] pp.

Binding: Contemporary full calf with raised bands and gilt tools on spine; and blind tooled concentric frames on boards.

The second part contains a folded table that includes an index / diagram of the related subjects in the book.

Copy presents light foxing on the first part on the margins of some folios and, on the second part, bookworm traces in the bottom margin of some folios.

5th edition (6th according to) of this very famous work that was first published in Hamburg in 1603.

The “Tratado de Ginecologia” [Treatise of Gynecology] is divided in two parts: the first describes the anatomy and physiology of the female body; the second the respective pathology and clinic.

Castro was extremely bold and modern in this treatise. He describes the massage that should be done to the parturient to ease the birth and among the people that should be present he recommends the presence of the husband, which was totally original at the time.

The complicated deliveries are subdivided in: vicious, if both child and mother are normal, i tis the position of the child that is outsider the rules; - hard and arduous if the birth is complicated by some abnormality of the child or the mother (baby’s big head; narrow pelvis, etc.).

In what concerns the baby’s position he prefers the position with head down and only in very exceptional cases he accepts pulling the child by its feet. He puts completely aside to perforate the child to be born if the natural birth is not possible, because he does not consider legitimate to end one’s life to save another. In this case he accepts that a caesarean section is performed. He dedicates a full chapter to this procedure and comes to the same conclusions as its greatest promoter, the French François Rousset (published in 1581).

Referências / references:

Barbosa Machado (Vol. III, pag. 639) «Rodrigo de Castro, célebre professor de Medicina que estudou na Universidade de Salamanca com universal aplauso do seu engenho, que excedia de todos os seus condiscípulos, e competia com os maiores Catedráticos desta Faculdade. Deixando Salamanca passou à Alemanha, e na cidade de Hamburgo desde o ano de 1596 até o de 1628 em que faleceu exerceu a Arte Médica com plausível crédito da sua Ciência que deixou eternizada nas suas obras, pelas quais mereceu os elogios de Zacuto Lusitano, intitulando-o Med, Prin. Hist. […] Medicus celeberrimus [… ] elegantissimus […] observantissimus & scientissimus […] Medicinae Antistes […] Medicus eximius, er juniorum facile Principes […] Medicus famosus […] Medicin habile [etc, etc] [1ª edição] Hamburgi ex Officina Frobiniana typis Philippi de Ohr 1603. [Edições , seguintes]: Venetiis, 1644; Hanoviae, 1654; Coloniae, 1662; Francofurti, 1668; Coloniae, 1689. [Segundo Barbosa:] Foi casado na cidade de Hamburgo e teve dois filhos émulos da sua médica ciência, dos quais o primeiro chamado Bento de Castro foi Físico Mor da Rainha da Suécia Cristina Alexandra, como dissemos em seu lugar; e o segundo Daniel de Castro Fisico Mor d’El-Rei da Dinamarca».

Brunet ( Tomo I, 1637 ) refere uma edição de Hamburgo de 1662 impressa com a obra Medico-politicis; e refere a edição de Francoforte de 1668.