Sobre a nudez forte da Verdade - o manto diaphano da Phantasia. Porto. Typ. de A.J. da Silva Teixeira. 1887.

De 18,3x12,3 cm com [xx], 441, [iii] págs.

Encadernação da época, com lombada em pele com ferros a ouro. Pastas em papel decorativo marmoreado.

Exemplar com assinaturas de posse coevas, na folha de guarda e de rosto, com mancha no pé das folhas.  

1ª edição rara, editada pela Livr. Internacional de Ernesto Chardron - Casa Editora Lugan & Genelioux, que não é mencionada no livro dado esta edição ter começado por ser uma edição de autor, segundo Guerra da Cal.

Romance em que o autor, através das personagens de Teodorico Raposo e da sua Tia, muito devota, faz uma violenta sátira à religião católica em particular, e ao sentimento religioso em geral. Por toda a obra o sentimento religioso e as devoções católicas mais comuns na Lisboa do século XIX são constantemente atacados de forma sarcástica e a Bíblia é implacavelmente parodiada. As descrições dos lugares da Terra Santa estão semeadas de palavras negativas, tudo é sórdido, feio e sujo - «Isto é um horror!» exclama Teodorico.

A obra tem igualmente uma faceta de romance de tese, pois através do recurso narrativo a visões e sonhos de Teodorico Raposo, Eça de Queiroz nega a divindade de Cristo, mostrando influências de Ernest Renan e de David Strauss. A obra foi apresentada a um concurso literário da Academia das Ciências não tendo ganho o prémio. O relatório de Pinheiro Chagas, em que são analisadas as obras concorrentes, aponta defeitos de construção da narrativa, que foram depois confirmados por outros críticos.

O tema e o estilo da obra provocou polémicas na imprensa contemporânea, nomeadamente com Latino Coelho, e o autor foi acusado de plagiar uma obra semelhante 'Memórias de Judas' de Ferdinando Petruccelli della Gattina, publicada em 1867.

Eça de Queirós: A Escrita do Mundo. Biblioteca Nacional. Edições Inapa. Lisboa. 2000. Nº 257, página 228.   

Guerra da Cal, Volume I, nº 224, pág. 70-71.  

Inocêncio XIII, 94. Ainda não regista esta obra.

 Over the strong nudity of Truth – the diaphanous cloak of phantasy. Porto. Typ. de A.J. da Silva Teixeira. 1887.

Dim.: 18.3x12.3 cm with [xx], 441, [iii] pp.

Contemporary binding with gilt tools on leather spine. Boards covered with decorative marble paper.

Copy with contemporary ownership titles on front endpaper and title page. Slight old damp stain at the bottom of some pages.  

First rare edition published by Livr. Internacional de Ernesto Chardron - Casa Editora Lugan & Genelioux, not mentioned in the book since, according to Guerra da Cal, this was an author’s edition.

A novel where the author satirizes the catholic church and its followers and practices using both main characters, the devoted Aunt Prudência [Prudence] and her non-religious nephew Teodorico Raposo, to criticize and demolish the catholic devotions and ceremonies of the 19th century Lisbon.

The work is also a kind of thesis novel, using the narrative to deny the divinity of Christ, showing influences of Ernest Renan and David Strauss.

This work entered a literary contest of the Portuguese Academy of Science but did not get the prize. The report where Pinheiro Chagas analyses the works entering the contest points out flaws in the construction of the narrative, which have been later confirmed by some reviewers.

Both the theme and the style of the work stirred up some controversy on the press at the time, especially with Latino Coelho, and the author was accused of plagiarizing a similar work published in 1867, Memoirs of Judas by Ferdinando Petruccelli della Gattina.