CHANTRE, E CONOGO DA SE’ DE ÉVORA. EM QUE SE DECLARAM AS GRANDES COMMODIDADES, QUE TEM para crescer em gente, industria, commercio, riquezas, e forças militares por mar e terra, as Origens de todos os appelidos, e Armas das Familias Nobres do Reyno, as Moedas, que correraõ nesta Província do Tempo dos Romanos atè o presente, e se referem vários Elogios de Príncipes, e Varoens Illustres Portuguezes. Nesta segunda Impressaõ acrescentadas, PELO PADRE D. JOZÉ BARBOSA CLÉRIGO REGULAR, ACADÉMICO DO Numero da Academia Real. LISBOA OCCIDENTAL, NA OFFICINA DE ANTONIO ISIDORO DA FONSECA. Anno. M. DCC. XL. (1740). In fólio de 27,5x19,5 cm. Com (xxiv)-466 pags. Encadernação da época inteira de pele com nervos e rotulo vermelho na lombada. Ilustrado com gravuras de moedas notexto. Inocêncio V, 106. “MANUEL SEVERIM DE FARIA, Presbytero, Mestre em Artes e Doutor em Theologia pela Universidade d'Evora Conego e Chantre na egreja cathedral da mesma cidade, pela renuncia que n'elle fizera seu tio Balthasar de Faria Severim (vej. no Diccionario tomo I, o artigo D. Basilio de Faria) em 1608 e 1609. - N. em em Lisboa no anno de 1583, e tendo renunciado as duas prebendas em seu sobrinho Manuel de Faria Severim em 1639, m. de ictericia, complicada com outras enfermidades, a 25 de Septembro de 1655 (dizem outros que a 16 de Dezembro d'esse anno) quando contava de edade 72 annos. - Vej. a sua biographia á frente das Noticias de Portugal da edição de 1740, e o artigo que a seu respeito escreveu o sr. J. H. da C. Rivara, publicado na Revista Litteraria do Porto, tomo III, a pag. 353 e seguintes no qual, além de varias noticias, se contém a narrativa da trasladação solemne que em 1839 se fez para a egreja cathedral dos ossos d'este, e do outro não menos celebre escriptor eborense André de Resende, demonstração realisada por diligencias e esforços de uma commissão, especialmente nomeada pela camara municipal respectiva, e com a efficaz cooperação do sr. Manuel Alves do Rio, administrador geral que então era d'aquelle districto. Escreveu Severim de Faria grande numero de obras estimaveis em diversos generos, pela maior parte illustradoras da historia patria, cujos titulos pódem ver se extensamente na Bibl. Lus. As que ficaram manuscriptas passaram depois do seu falecimento, juntamente com a sua copiosa e escolhida livraria, a enriquecer outra, ainda mais abundante e numerosa, qual era em Lisboa a do Conde do Vimieiro, riquissimo thesouro litterario, que foi como tantos outros reduzido a cinzas pelo incendio subsequente ao terremoto de 1755. - As que hoje se conservam, por terem gosado do beneficio da impressão, ainda em vida do auctor, são as seguintes: 1293) (C) Noticias de Portugal, offerecidas a el rei nosso senhor D. João o IV. Declaram se as grandes commodidades que tem para crescer em gente, industria, commercio, riquezas e forças militares por mar e terra. As origens de todos os appellidos e armas das familias nobres do reino. As moedas que correram n'esta provincia do tempo dos romanos até o presente. E se referem varios elogios de principes e varões illustres portuguezes. Lisboa, na Offic. Craesbeeckiana. Fol. de XII 342 pag., sem contar as do indice final. - Ha n'esta edição de mais que na segunda, que adiante descrevo, uma dedicatoria do auctor a el rei D. João IV, a qual foi n'aquella substituida pela dedicatoria feita em nome do livreiro editor ao P. Fr. José Caldeira. Reimprimiu se com o titulo: Noticias de Portugal, etc. N'esta segunda impressão accrescentadas pelo P. D. José Barbosa. Lisboa, por Antonio Isidoro da Fonseca 1740. Fol. de XXIV 466 pag., inclusas as do indice geral. Sahiu por industria de Manuel da Conceição, livreiro, que se tornou benemerito das letras por varias reimpressões que fez de livros raros, e estimaveis dos nossos classicos (vej. por exemplo no Diccionario, tomo II, o artigo Christovam Rodrigues de Oliveira, etc.) Os addicionamentos d'esta edição constam: 1.º na vida de Manuel Severim de Faria, em breve epitome, por D. José Barbosa. 2.º no discurso IV a pag. 183 e seguintes, o que diz respeito ás moedas do reino nos reinados de D. Affonso VI, D. Pedro II e D. João V. 3.° no discurso VIII de pag. 267 a 286 as memorias ácerca dos cardeaes portuguezes D. Verissimo de Lencastre, D. Luis de Sousa, Nuno da Cunha de Ataide, D. José Pereira de Lacerda, D. João da Motta e Silva e D. Thomás de Almeida. 4.º o Panegyrico de João de Barros a el rei D. João III, que sahiu aqui pela primeira vez, impresso todavia com alguns erros que se não poderam emendar (segundo confessa o editor) por falta do original, e de copia exactissima. Ha tambem pequenas addições a pag. 56, 59, 62,130, 132, 139, 138, etc. O preço dos exemplares d'esta edição creio ter chegado de 1:200 a 1:600 réis. Sahiram estas Noticias em terceira edição augmentada por Joaquim Francisco Monteiro de Campos, etc., Lisboa, na Offic. de Antonio Gomes 1791. 8.º 2 tomos com XIV 319 pag., e VIII 297 pag., com cinco estampas gravadas, contendo os desenhos de varias moedas do reino. - Faltam porém n'esta edição comparada com as anteriores, os Panegyricos de João de Barros a el rei D. João III e á infanta D. Maria, o Elogio de Antonio de Castilho ao dito monarcha, e os Elogios de Fr. Bernardo de Brito e da cidade de Evora, por Severim, o que tudo este editor fez imprimir em volume separado, e com o titulo especial: Panegyricos do grande João de Barros, etc. Lisboa, na Offic. de Antonio Gomes 1791. 8.º de V 326 pag., e mais uma com o indice. Diligente e erudito antiquario, homem probo e verdadeiro em suas investigações, critico sisudo e judicioso, tanto quanto lh'o permittiam as idéas e preconceitos do seculo em que viveu, Manuel Severim de Faria é um escriptor geralmente respeitavel, e que nas suas obras deixou muito bons subsidios para a historia civil, não menos que para a da litteratura, da lingua, e da critica litteraria em Portugal. A sua dicção é geralmente pura e fluente, posto que (como diz o P. Freire nas suas Reflexões sobre a Ling. Port.) ás vezes affecta sem motivo antiguidade de vocabulos, usando de archaismos que lhe tiram até certo ponto o grau de auctoridade, que aliás poderia ter entre os textos de primeira classe. Falando a seu respeito o auctor do Catalogo que antecede o Diccionario da Acad., tomo I (e unico), a pag. CLXXXII, serve se das seguintes expressões: «Com difficuldade se achará quem, durante a propria vida, conseguisse um credito tão plausivel entre os seus concidadãos, e tão honrosa nomeada entre os sabios seus contemporaneos. Foi na realidade este meritissimo ecclesiastico por virtudes e letras a pessoa mais auctorisada, que no seu tempo se conhecia em Portugal, Assim o testificam os elogios de todos os escriptores coevos, que não podem ser julgados obsequio da adulação, ou tributo do servil interesse, mas sim voluntarios affectos devidos a um merecimento reconhecidamente superior.» As Noticias de Portugal (n.° 1293), da primeira edição, têem alcançado os seguintes preços, conforme os concorrentes e o estado dos respectivos exemplares: no leilão dos livros de Figueira, 3$000 réis no de Sousa Guimarães, 3$400 réis no de Osorio Cabral, 1$780 réis e no de Silva Tullio, 1$050 réis. No catalogo da livraria Pereira da Silva vem cotado por 3$000 réis. Da segunda edição: no leilão de livros de Gubian, 1$250 réis no de Sousa Guimarães, 2$350 réis no de Innocencio, 830 réis no de Minhava, 1$550 réis no de Fernando Palha (leilão que se realisou anonymo, mas que veiu a saber-se constava dos duplicados d'este distincto bibliophilo), 1$100 réis e no de Luiz Antonio, 500 réis. Este ultimo exemplar podia considerar-se bom mas quando appareceu em praça, e souberam que o auctor d'estas linhas o desejava para a sua bibliotheca, ninguem lançou mais e assim o arrematou. No catalogo da livraria Pereira da Silva tem o preço de 2$500 réis. Da terceira edição: no leilão dos livros de Innocencio, 420 réis e no de um anonymo, 1$600 réis. No catalogo da livraria Pereira da Silva vem com o preço de 1$000 réis.”