5 Fólios sem numeração preenchidos nos dois lados, com tinta azul de esferográfica, com acrescentos e correcções a tinta permanente preta com excepção do último, que está em branco.

Texto com quatro partes numeradas de 1 a 4 no início de cada uma. No fim está datado de 23 de Maio de [19]67 noite de terça-feira 8 horas depois do assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz. 

O assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz ocorreu em 17 de Maio, entre as 15 e 55 e as 16 e 25.  

Trata-se de uma análise crítica aprofundada à obra de Luiz Pacheco - Crítica de Circunstância, Lisboa Ulisseia. 1966.  

Transcrições de algumas partes: Começa: 1 - É injusto, sim, é ingrato dizer qualquer coisa/séria destes "malditos" Textos do Luiz - veneno/ lúcido de um escritor que é homem, de um / homem que tem [...?] fiel à sua liberdade/ e condição de ser homem   

4 - E não devemos dizer mais nada, a não ser apenas estas últimas palavras: Luiz Pacheco não deve querer que o lamente, que lhe deem esmola! Pacheco quer trabalho, Pacheco quer liberdade, Pacheco vive num reino maldito feito de utopias que os outros não consentem! Luiz Pacheco pensa de esmola, sim, mas uma esmola que não se lhe deve negar - a da nossa profunda compreensão [rasurado] para com um homem que se fez escritor, que se vinga dos males da vida,    ... que atira folhas à vida / como o cavador lança a semente à terra [rasura] ("filhos muitos filhos  - , uma aposta no futuro") Sim, Luiz Pacheco já não tem nada a perder - já perdeu tudo! Mas a vida / não se evapora quando queremos, nem / sempre ... que nos atira aos olhos nos momentos mais inesperados...         

Luiz Pacheco (1925-2008) notabilizou-se não só como escritor caprichosamente marginal, que se classificava como “neo-abjeccionista” mas também como corajoso editor, responsabilizando-se por dar à estampa criteriosas edições de reduzidas tiragens, o que é devidamente assinalado no duplo catálogo homónimo, também organizado por Luís Gomes, e editado conjuntamente pelas Publicações D. Quixote (grupo editorial Leya) e pela BNP.

Foi amigo de Laureano Barros (seu mecenas) Mário Cesariny, António José Forte, Artur Ramos, Fernando Ribeiro de Mello, Máximo Lisboa, Edite Soeiro, Cunha Gonçalves Zetho, Irene Rodrigues, entre muitos outros escritores. Usou pseudónimos como Delfim Costa.

José Neves Águas (Lisboa, 1921 - Lisboa, 1991) escritor e jornalista. Dedicou-se à investigação literária e bibliográfica, tendo publicado trabalhos de bibliografia sobre Jaime Cortesão, cuidou da anotação e fixação do texto de alguns autores portugueses da época dos Descobrimentos. Colaborou em publicações regionais, como Revista Transmontana, Jornal-Magazine da Mulher, A Planície, O Alhandra; Jornal do Fundão, Notícias de Marinhais; Correio do Ribatejo, Diário de Coimbra e Concelho de Loures, e em publicações de âmbito nacional como O Primeiro de Janeiro, Diário de Lisboa, República, O Diário, Jornal de Notícias, O Século, A Capital, Vida Mundial e História. Durante os anos de 1959-1960 dirigiu o suplemento cultural do jornal República dedicado aos jovens escritores, “Rota”. Reuniu uma vasta e notável colecção de documentos de propaganda política que foram adquiridos pela Câmara Municipal de Lisboa.   

Ref:

Luiz Pacheco - Cartas do escritor libertino a Laureano Barros. Organização, anotações e prefácio de João Pedro George. Tinta da China. Lisboa. 2017.  

Maria Helena Sardinha - Correspondência de Luiz Pacheco com Luís Amaro. Tese de Mestrado em Crítica textual. FLUL. 2017 

Exposição - Luiz Pacheco: 1 Homem dividido vale por 2, coordenada por Luís Gomes, que esteve patente na BNP por ocasião da aquisição de 158 documentos autógrafos do escritor num leilão realizado dia 25 de Novembro de 2009, em Lisboa.

Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Organizado pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas; Coordenação de Ilídio Rocha, Publicações Europa América, 2000, p. 111 e 112, Neves Águas.