Que pregou O Illustr.mo e R.mo Senhor D. FR. CHRISTOVAM D’ALMEYDA Da Ordem dos Eremitas de S. Augustinho, Bispo de Martyria do Concelho de S. M. & seu Prègador: Qualificador do S. Officio, Provisor, & Vigario Geral, no espititual, & temporal, na Corte, & Arcebispado de Lisboa. QUARTA PARTE. LISBOA. Na Officina de Joaõ Galraõ Anno de 1686. Com todasas licenças necessarias. A custa de Antonio Leyte Pereyra Mercador de Livros.

De 20x15 cm. Com [vi], 297, [i em br.], [lii], [ii em br.] págs. Encadernação recente, com partes das pastas da anterior encadernação coladas sobre as atuais pastas, que apresentam elaboradas molduras a seco com filetes simples e motivos tipográficos.

Texto em caracteres redondos e alguns itálicos, disposto em duas colunas e ornamentado com belas gravuras, desde iniciais decoradas, cabeções formados por motivos tipográficos e grandes e detalhados florões de remate. Inclui pequenas referências impressas à margem.

Exemplar com falta da folha de rosto e levemente aparado à cabeça, atingindo o título corrente e paginação de algumas páginas. A folha de rosto foi transcrita a partir da cópia digital pública disponibilizada pela Biblioteca Nacional.

Primeira edição muito rara do quarto volume dos Sermões de Cristóvão de Almeida, especialmente notável por conter um sermão de Auto de Fé. A Biblioteca Nacional só tem um exemplar deste volume. Foi publicada a segunda edição em 1725 por Bernardo da Costa, Lisboa. 

A Porbase regista variantes desta obra. Na presente, a última licença é de 16 de Maio de 1686, a taxação de 18 de Maio de 1686 e o reclamo do verso da segunda folha preliminar «Appro.». Na variante a licença é de 19 de Junho de 1685 e o reclamo «Approva». A página 222 está numerada 223, a 223-224, 249-245 e 256-257, por erro do impressor, no entanto, a obra está completa.

Primeiras páginas com licenças de Fr. Manuel de S. Atanásio, Fr. Manuel de Santiago, Fr. Tomé da Conceição; índice de sermões. Últimas páginas com índice de referências às sagradas escrituras e extenso índice remissivo.

Através dos seus sermões, Cristóvão de Almeida abordou uma ampla gama de temas religiosos e históricos, combinando a devoção com a exaltação de episódios marcantes da história e da fé cristã. Esta quarta parte da sua obra apresenta sermões que celebram festas e figuras importantes do calendário litúrgico e da tradição portuguesa, como celebrações da Natividade, Quaresma, e festas de figuras sagradas como Santo António, Santa Maria Madalena e Nossa Senhora. O sermão da Batalha de Aljubarrota, em particular, reflete a ligação entre a história religiosa e a história militar de Portugal, exaltando o papel da fé nas vitórias do país.

Dentro deste conjunto de sermões destaca-se também o Sermão do Auto de Fé, um tipo de pregação religiosa proferida durante as cerimónias dos autos de fé, que eram rituais públicos promovidos pela Inquisição para julgar e, muitas vezes, condenar hereges ou pessoas acusadas de desvio da fé católica. Estes sermões tinham uma forte função moralizadora, servindo para reafirmar a ortodoxia católica e justificar a ação da Igreja na repressão de heresias.

Índice dos Sermões: 1. Sermão pelos anos da Princesa Nossa Senhora; 2. Sermão do Dia de Reis; 3. Sermão da Natividade de Nossa Senhora; 4. Sermão de Nossa Senhora da Graça; 5. Sermão de Santo António; 6. Sermão da Batalha de Aljubarrota; 7. Sermão da Quarta-feira da Quaresma; 8. Sermão das Dores de Nossa Senhora; 9. Segundo Sermão das Dores de Nossa Senhora; 10. Sermão da Conceição de Nossa Senhora; 11. Sermão da Conversão de Santo Agostinho; 12. Sermão da Conversão de Santa Maria Madalena; 13. Sermão do Sábado Sexto da Quaresma; 14. Sermão do Desagravo de Cristo; 15. Sermão do Auto de Fé.

D. Frei Cristóvão de Almeida (Golegã, 1620 – Caldas da Rainha, 1679), foi uma figura de destaque na Igreja e na oratória sacra portuguesa do século XVII, sendo considerado um dos mais importantes pregadores depois de António Vieira. Entrou na Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho em 1637 e professou em 1638 no Convento da Graça. A sua inteligência notável e predisposição para os estudos levaram-no a concluir o doutoramento em Teologia, começando, em seguida, a lecionar Filosofia e Teologia. Com o tempo, alcançou o prestigiado posto de Lente de Prima no Colégio de Santo Agostinho, em Lisboa, onde era venerado pela sua sabedoria e capacidade para resolver as mais difíceis questões teológicas.

A sua carreira eclesiástica foi marcada por nomeações importantes. Foi Pregador Real, Qualificador do Santo Ofício e Examinador das Três Ordens Militares, o que reforçou o seu estatuto e influência no meio religioso. Em 6 de janeiro de 1669, foi nomeado bispo-titular de Martiria e coadjutor do arcebispo de Lisboa, D. António de Mendonça. Foi sagrado bispo a 3 de janeiro de 1672 na Igreja dos Agostinhos Descalços do Monte Olivete, nos subúrbios de Lisboa.

Cristóvão de Almeida foi um dos mais notáveis oradores evangélicos do seu tempo, proferindo sermões que impressionaram a nobreza e a realeza portuguesas. As suas pregações, repletas de erudição e elegância, tornaram-no uma referência no panorama oratório e teológico do país. A coletânea dos seus sermões foi publicada em quatro volumes, o primeiro em 1673 e os restantes póstumos, com o último saindo em 1686. Uma edição revista e ampliada foi publicada em 1725, apesar de conter algumas pregações que não eram da sua autoria, mas do jesuíta Padre António de Sá.

Cristóvão de Almeida faleceu a 26 de outubro de 1679 nas Caldas da Rainha, após sofrer um ataque de paralisia. Procurou as águas medicinais da região na esperança de cura, mas não sobreviveu. O seu corpo foi trasladado para o Convento dos Eremitas de Santo Agostinho em Leiria, onde foi sepultado. A sua obra oratória, em parte traduzida para espanhol e publicada na *Laurea Lusitana*, continua a ser uma referência no estudo da retórica sacra portuguesa.

Refs.:

A. A. Banha de Andrade - Dicionário de História da Igreja em Portugal, I, 122.

Iberian Books C10535 [66920]

CCPB, no. CCPB000046808-8.

Inocêncio II, 67, n.º 245.

Barbosa Machado 1, 570

Ref a verificar:

Pericão, M.G. Bibliogr. mariana port. séc. XVII e XVIII 133

Arouca A 137, 140, 141, 143