RUGENDAS. (Johann Moritz) HABITANTE DE GOYAS, QUADRO A ÓLEO PINTADO SOBRE MADEIRA.

     
 
 

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PANORAMA (O). JORNAL LITTERARIO E INSTRUCTIVO DA SOCIEDADE PROPAGADORA DOS CONHECIMENTOS UTEIS. [COLECÇÃO COMPLETA]

Volume Primeiro. Publicado de Maio a Dezembro de 1837. Imprensa da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis. Lisboa. 1837 – 1868.

18 Volumes de 27,5x19 cm. Com [viii], 280; [vi] 416; [vi], 416; [vi], 416; [iv], 416; [iv], 424; [vi], 414; [vi], 414; [iv], 416; [iv], 424; [iv], 416; [iv], 416; [iv], 416; [iv], 416; [iv], 412; [iv], 412; [iv], 414; [iv], 412 págs. Encadernações da época com lombada em pele com ferros a ouro.

Ilustrado com xilogravuras a preto e branco.

Exemplar com danos causados por humidade quer nas folhas, quer nas pastas, com o revestimento em papel das mesmas a desfazer-se, encontrando-se algumas quase sem papel, nomeadamente a pasta anterior do volume 6 e as do volume 7. Registam-se ainda as seguintes particularidades: volume 1 com anotações a tinta na folha de rosto e lombada parcialmente solta; volume 6 com folha de rosto rasgada; volume 7 com a primeira folha colada à pasta anterior, que está descolada do miolo;

Conjunto completo e muito raro. A revista «Panorama», publicada em Lisboa entre 1837 e 1868, foi uma das publicações mais influentes do século XIX em Portugal. Constitui actualmente uma fonte histórica riquíssima para várias áreas de estudo (história, literatura, imprensa, sobre o romantismo, entre outros), tendo sido um dos principais órgãos do Romantismo português.

As primeiras páginas reúnem geralmente um índice alfabético dos artigos, lista de correspondentes da sociedade e informação editorial, como a constituição da mesa da assembleia e dos directores.

SOBRE A OBRA

Lançado em 1837 pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, O Panorama figura como um dos periódicos mais importantes do século XIX. Foi publicado semanalmente ao longo de mais de três décadas, com algumas interrupções, até 1868, perfazendo um total de cinco séries: 1837-41, 1842-44, 1846-56, 1857-58 e 1866-68. Marcou um tempo e constituiu um modelo que veio a ser seguido por outros jornais da altura.

O Panorama contou com a colaboração de figuras destacadas como Almeida Garrett, Feliciano de Castilho, Júlio de Castilho, Francisco de Sales, Francisco Adolfo de Varnhagen, José Félix Henrique Nogueira, Rafael Bordallo Pinheiro, Luís Augusto Rebelo da Silva, Inácio Vilhena Barbosa, Francisco Gomes de Amorim, António Pedro Lopes de Mendonça, o próprio Silvestre Ribeiro, Camilo Castelo Branco, Manuel Pinheiro Chagas, entre muitos outros. 

Após a Guerra Civil de 1832-34, que opôs liberais e absolutistas, o regime monárquico constitucional estabeleceu-se definitivamente em Portugal. Apesar das tensões políticas entre setembristas e cartistas até meados do século, emergiu uma nova sociedade enquadrada num modelo político, social e económico inspirado nos ideais liberais de 1820. Neste contexto, o movimento associativo e a imprensa periódica ganharam destaque, com O Panorama a assumir um papel central na divulgação de conhecimentos e na promoção de uma «instrução variada» dirigida a um público alargado.

Foi, em suma uma voz ao serviço da ideia da «regeneração do país», utopia ou projeto que procurou concretizar-se através da valorização da consciência da identidade nacional e da construção de um compromisso político entre as diferentes sensibilidades liberais em luta (setembristas, cabralistas; regeneradores, progressistas), que permitisse instaurar a «ordem» necessária ao progresso do país, de acordo com o modelo económico liberal, isto é, capitalista. Como tal, destacou-se como educador da classe média tornando-a sensível às novas substâncias de uma literatura que se molda no encarecimento das coisas nacionais, culto do passado, divulgação de imagens de idade média, orgulho nacional, etc. etc.

A primeira notícia sobre a preparação deste novo periódico surgiu no 'Diário do Governo' a 21 de fevereiro de 1837, indicando que alguns cidadãos portugueses, amigos da verdadeira ilustração, conceberam o projeto de derramar, por meio de uma publicação semanal, a maior cópia possível de conhecimentos úteis, procurando para esse fim aproveitar os vastos subsídios que lhes fornecem as obras periódicas dos outros países. O primeiro número foi publicado em maio de 1837, como órgão da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, contando entre os seus acionistas iniciais com a Rainha D. Maria II. Alexandre Herculano foi o primeiro redator principal, assumindo as funções de diretor e chefe de redação até 1839. 

Num período em que a discussão política fervilhava, com uma imprensa altamente politizada, ‘O Panorama’ estabeleceu uma abordagem instrutiva e apolítica (num sentido partidário e de luta política), cingindo-se à divulgação de conhecimentos. Contudo vale notar que também não se inibiu de defender as politicas, os projetos, as ideias e os valores que considerava essenciais para a reforma e o incremento do país. A revista abordava temas variados, principalmente de história nacional e estrangeira, monumentos e apontamentos de tempos remotos da antiguidade, mas também de geografia, biografias (de militares, eclesiásticos, entre outros), literatura, direito, economia, comércio, desenvolvimentos técnicos quer a nível industrial como na agricultura, algumas noções de higiene, entre outros. O nome do jornal caracterizava, de facto, a síntese pretendida. Herdeiro duma parte da tradição iluminista do século XVIII, a natureza enciclopédica é evidente, característica, aliás, de vários periódicos da mesma altura, como o Arquivo Popular (1837), Arquivo Pitoresco (1857) ou o Arquivo Universal (1859).

Com um custo de $25 avulso, mas com a possibilidade de assinaturas anuais, semestrais ou trimestrais, os promotores da Sociedade mantinham o custo de aquisição baixo, de forma a chegar ao maior público possível - entenda-se, as classes mais baixas. O modelo de custo reduzido, e não só, tinha clara inspiração na impressa estrangeira, em particular a britânica, com o The Penny Magazine, da Society for the Diffusion of Useful Knowledge, criada em 1826 (facto assumido pelos redactores, O Panorama, n.º 36, p. 1). Na verdade, adoptou-se, inicialmente, o mesmo formato do jornal inglês: duas colunas, tendencialmente com oito páginas, cuja numeração seria contínua nos números posteriores (modelo em fascículo para fazer colecção). A primeira página continha uma ilustração que dava o mote para o artigo principal desse número, seguindo-se outros pequenos artigos com ou sem ilustração sobre temas variados. As ilustrações reproduzidas no jornal foram, pelo menos inicialmente, quase sempre de origem estrangeira, reflexo do fraco desenvolvimento da gravura em madeira, em Portugal.

O Panorama destacou-se como um veículo inovador em Portugal ao impulsionar a disseminação de avanços técnicos e científicos em diversas áreas, desempenhando um papel crucial na modernização do país. Um dos contributos notáveis do jornal para a tipografia, foi a divulgação pormenorizada da invenção do daguerreótipo, noticiando e incentivando o seu desenvolvimento em território nacional. Em 1840, na página 31, orgulhosamente apresenta o primeiro daguerreótipo português, conseguido por Francisco Mocenig, que fixou o lado oriental do Paço da Ajuda. Outras inovações nacionais que promoveu foram os aeróstatos, a faixa hidráulica e o diedrógonometro. No setor agrário, a revista foi ainda mais ativa, promovendo o uso de equipamentos agrícolas estrangeiros, incentivando ensaios com cereais selecionados e divulgando resultados práticos, como o aproveitamento de recursos naturais numa perspetiva industrial.

Conseguiu alcançar, com aparente sucesso, as populações fora dos grandes centros urbanos, constituindo a sua leitura pública um elemento de assembleia nas povoações mais pequenas. Chegou a atravessar o Atlântico, sendo lido nos Açores, Madeira e Brasil, contando com colaboradores como Francisco Adolfo de Varnhagen (O Panorama, n.º 1, p. 1, 1842).

No final de 1839 Alexandre Herculano deixou a revista, saindo para ir ocupar o cargo de Director das Bibliotecas Reais da Ajuda e Necessidades, após nomeação do rei D. Fernando. Passou a direção para Feliciano Castilho que a liderou até 1841, altura em que saiu para dirigir um outro periódico, a Revista Universal Lisbonense, entre 1841-45. Na segunda série (1842-1844), seria António de Oliveira Marreca a assumir a direção, enquanto a terceira série (1846-1856), a primeira após a extinção da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, foi liderada pelo tipógrafo-editor António José Fernandes Lopes, que enfrentou as dificuldades inerentes ao conflito da Guerra da Patuleia. Durante a breve quarta série (1857-1858), a direção esteve, segundo Inocêncio da Silva, a cargo de Luís Augusto Rebelo da Silva, embora o jornal não o mencione explicitamente. A quinta série (1866-1868), iniciada após sete anos de suspensão, foi relançada numa parceria entre a empresa Panorama, ainda propriedade de António José Fernandes Lopes, e a Tipografia Franco-Portuguesa. Só por si, esta longevidade e persistência de publicação indicam o quão reputado e admirado o jornal era.

O impacto que O Panorama teve foi tão expressivo que este seria recordado, anos após a sua extinção, por outras figuras da cultura portuguesa. Como bem notou António Manuel Ribeiro, o jornal popular foi visto com admiração e respeito por Ramalho Ortigão, Joaquim de Araújo, Teófilo Braga, Sampaio Bruno e Oliveira Martins. Inclusivamente, O Panorama honra de ser mencionado na ficção oitocentista, como em Eusébio Macário de Camilo Castelo Branco ou na obra de Eça de Queiroz, A Ilustre casa de Ramires.

ALEXANDRE HERCULANO (Lisboa, 1810 – Azóia de Baixo, Santarém, 1877) foi um dos mais destacados intelectuais portugueses do século XIX, com contribuições marcantes como historiador, escritor, jornalista, polemista e político. Nascido no seio de uma família de origens modestas, Herculano construiu uma carreira multifacetada, destacando-se pela aplicação pioneira de métodos «científicos» na historiografia portuguesa e pelo uso da ficção histórica como ferramenta de educação cívica e valorização da identidade nacional. Além disso, Herculano exerceu brevemente cargos políticos, mas o seu impacto foi maior enquanto ideólogo liberal, crítico do centralismo absolutista e defensor do municipalismo e da descentralização político-administrativa.

A sua produção literária incluiu romances históricos como «O Bobo», «Eurico, o Presbítero» e «O Monge de Cister», além de ensaios políticos e históricos que moldaram a perceção do passado nacional. Herculano também liderou projetos de edição de documentos históricos, como os volumes dos «Portugaliæ Monumenta Historica». Como diretor da revista «Panorama» e da Biblioteca da Ajuda, utilizou plataformas institucionais e culturais para divulgar os seus ideais liberais, enquanto, em obras como «História de Portugal», procurou resgatar o espírito do municipalismo medieval como alternativa à centralização política que condenava.

Retirado para o campo nos últimos anos de vida, Herculano continuou a influenciar a sociedade através dos seus escritos e tornou-se uma figura de culto na memória coletiva portuguesa. A sua glória póstuma foi consagrada com a transladação dos seus restos mortais para o Mosteiro dos Jerónimos, em 1888, elevando-o ao panteão dos maiores nomes da história e cultura de Portugal.

Ref.:

Rita Correia, Ficha Histórica – O Panorama : jornal litterário e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis. Hemeroteca Digital, Câmara Municipal de Lisboa. [em linha]

Ricardo de Brito, Dicionário de Historiadores Portugueses: da Academia Real das Ciências ao Final do Estado Novo.

Arthur Assis, Dicionário de Historiadores Portugueses: da Academia Real das Ciências ao Final do Estado Novo.

Maria Cristina Nogueira Lança de Mello. O Panorama: História de um Jornal. Lisboa. 1971.

Inocêncio VI, 335-336, n.º 5.

Inocêncio XVII, 136-137.


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Referência: 2411SB003
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