Offerecido AOS NOVOS OFFICIAES DO EXERCITO por BERNARDO ANTONIO ZAGALO, Coronel de Infanteria. LISBOA: Em a Nova Impressão da Viuva Neves e Filhos. Anno de 1825. Com licença da Meza do Desembargo do Paço.

In 4.º de 21,5x14,5 cm. Com iv, 5-303, [i], [l] págs. Encadernação da época inteira de pele com rótulos e ferros a ouro na lombada. Cortes das folhas mosqueados a vermelho.

Ilustrado com 24 estampas desdobráveis contendo todas as manobras de ordem unida dos regimentos, das brigadas e das divisões da infantaria na transposição dos obstáculos naturais e em posição de combate.

Exemplar com ex-libris da biblioteca de J. Pinto Ferreira na pasta anterior e assinaturas de posse e anotações, incluindo uma pequena biografia do autor escrita a lápis, nas folhas de guarda. Apresenta pequenas falhas de pele e picos de traça na lombada, nas pastas, nas folhas de guarda e ao longo das primeiras páginas até à 8, e também entre as páginas 39 e 70, sem nunca impedir leitura e muito pequenos; assim como nas estampas 16 a 24, atingindo a mancha gráfica, mas sem impedir a sua leitura. Exemplar com pequenos reforços amadores na lateral das páginas 55-65 e 104-124, e também em algumas das gravuras. A estampa 17 encontra-se em duplicado.

Edição muito rara, não é referida por Martins de Carvalho (Dicionário Bibliográfico Militar Português), nem por Magalhães Sepúlveda (Dicionário Bibliográfico da Guerra Peninsular).

Obra fundamental para a compreensão da evolução da doutrina militar portuguesa no início do século XIX. Fruto de experiências diretas no comando e formação de tropas, Bernardo António Zagalo apresenta um método rigoroso e estruturado para a instrução dos soldados, cobrindo desde a postura individual até às complexas manobras de batalhão.

Preliminares com sucinto prefácio, completo índice de conteúdos nas páginas 291 a 301 e erratas na última página não numerada.

O Systema de Instrucção para a Infanteria surge da necessidade de padronizar e corrigir as incoerências presentes nas instruções militares da época. O livro divide-se em cinco partes: Instrução do Soldado - ensinamentos básicos sobre postura, marchas, manuseio de armas e execução de fogo; Instrução do Pelotão - formatura, movimentos em marcha e disposições táticas; Instrução do Batalhão - organização e manobras de grandes unidades, incluindo combate em linha e formação de quadrados; Evoluções de Brigada - movimentos coordenados entre vários batalhões; e Evoluções de Linha - ações táticas em escala superior.

A primeira metade do século XIX foi marcada por profundas mudanças nas doutrinas militares europeias, muito influenciadas pelas campanhas napoleónicas. Portugal, tendo participado nas Guerras Peninsulares, reconheceu a necessidade de modernizar o seu exército e uniformizar a instrução dos soldados. Este manual insere-se nesse esforço reformista, visando aumentar a eficácia das tropas portuguesas. Obras como esta eram comuns nos meios militares portugueses, particularmente no período pós-napoleónico. Este tipo de tratado ajudava a padronizar os procedimentos e garantir que os soldados e oficiais recebessem formação homogénea.

Bernardo António Zagalo (Ovar, 1780 - Lisboa, 1841) destacou-se como Marechal de Campo graduado do Exército Português e foi agraciado com várias condecorações, incluindo a Ordem da Torre e Espada e a de Avis. Participou ativamente na Guerra Peninsular, sendo reconhecido com a medalha de cinco campanhas e a do comando na Batalha de Orthez. Após a guerra, Zagalo envolveu-se na política, servindo como senador nas Cortes entre 1838 e 1840. Durante o seu mandato, apresentou projetos significativos, como a criação do Montepio Militar e a reorganização do Exército e da Fazenda.

Além disso, dedicou-se à literatura militar, deixando além da presente obra, um complemento à mesma: Systema de instrucção para a infanteria ligeira, offerecido aos novos officiaes do exercito, (1825) e ainda o Projecto de regulamento para a organisação e administração do exercito, apresentado no Senado em sessão de 29 de Janeiro de 1840, e impresso por ordem do mesmo Senado. (1840).

Referências:
BNP, Cota: S.A. 3809 P.
Inocêncio I, 366; VIII, 390.