Reformadas Pelo Licenciado Dvarte Nvnez do Lião, Desembargador da casa da Suplicação, per mandado del Rei Dom Philippe o primeiro de Portugal, da gloriosa memoria. Com licença da sancta Inquisição, & priuilegio Real. EM LISBOA. Impresso por Pedro Crasbeeck. Anno M. DC. [1600].

De 26,2x19,3 cm. Com [ii], 239, [viii] fólios. Encadernação do século XIX com lombada em pele, com ferros a ouro.

A folha de rosto apresenta ao centro uma xilogravura com as armas do rei Filipe II de Portugal enquadradas por uma moldura oval, com volutas e motivos vegetalistas. Impressão a duas colunas, muito nítida em caracteres redondos, com alguns itálicos nas citações e nas chamadas marginais e ornamentada com iniciais decoradas com motivos vegetalistas no início de cada crónica.

Exemplar com a folha de rosto espelhada, com mancha junto ao festo desde o fólio 161 ao fim, com mancha marginal desde o fólio 238 ao fim e pequenos picos de traça no pé dos fólios 174 a 180. Tem uma glosa marginal, sobre o crime de solicitação, riscada em tinta coeva nos fólios 179 verso, sublinhados a tinta no fólio 181 e pequenos rasgões com restauros antigos nos fólios 175, 176 e 217.

Tem folhas em branco entre os fólios 81 e 82, 134 e 135, 173 e 174. O fólio 162 tem 62, o fólio 178 foi impresso 172 e está corrigido em letra coeva; o fólio 206 tem impresso 209 e está corrigido num pequeno pedaço de papel colado ao lado no século XIX, que serve de reforço de um pequeno restauro.

1.ª Edição quinhentista muito rara e procurada de uma obra de grande importância histórica e literária, que foi reeditada em 1677 e em 1774.

Os fólios preliminares contêm as licenças com uma extensa aprovação de Frei Manuel Coelho e as erratas. Inclui as crónicas do Conde D. Henrique, D. Afonso Henriques, D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III, D. Diniz, D. Afonso IV, D. Pedro I, D. Fernando e um índice onomástico e por assuntos.

Considerada uma das mais importantes fontes de informação sobre os primeiros reis de Portugal, pois é reconhecida actualmente como uma obra com valor historiográfico.

O autor antes de iniciar a crónica de D. Afonso Henriques apresenta um longo texto em que contesta todos os factos atribuídos ao reinado do, 1.º Rei de Portugal, que não são favoráveis à imagem do rei, incluindo os conflitos com a mãe e com a Igreja.

Apesar de em tempos ter sido acusado de copiar crónicas de Fernão Lopes, esta tese não tem fundamento. Pelo contrário, Nunes de Leão cita uma crónica hoje perdida da autoria de Fernão Lopes, sobre o reinado de D. Afonso III, para contestar afirmações do grande cronista, mostrando assim a sua independência.

Duarte Nunes de Leão (Évora, 1530? - Lisboa, 1608) de origem judaica, foi um importante escritor do século XVI, autor de grande número de obras de história, ortografia, direito, geografia e genealogia. Formou-se em Direito Civil pela Universidade de Coimbra, desempenhou mais tarde o cargo de desembargador na Casa da Suplicação. Defendeu os direitos de Filipe II para se tornar rei de Portugal, mas depois mal recompensado pelos governantes filipinos, que lhe moveram ou deixaram mover perseguições, certamente explicáveis pela descriminação em relação aos Cristãos Novos corrente na época. A sua obra cobre fundamentalmente três áreas: o Direito, a História e os estudos linguísticos. Na primeira, publicou diversas coletâneas de A estes trabalhos parece ter dedicado década de 1560. No capítulo da historiografia, deixou-nos algumas interessantes investigações de carácter biográfico e genealógico sobre a casa real portuguesa, e ainda uma em Descrição do Reino de Portugal, que data de 1610. A terceira dimensão da sua obra é porventura a mais relevante. Nunes de Leão publicou estudos pioneiros sobre o nosso idioma. Em 1576 veio a lume uma Ortografia da Língua Portuguesa, em que se assumiu como o fundador, no nosso país, dos estudos ortográficos. Em 1606 publicou uma Origem da Língua Portuguesa Sabe-se ainda da existência de outros escritos, nomeadamente nos domínios da lexicologia e da etimologia, que, contudo se perderam.

 26.2x19.3 cm. [ii], 239, [viii] folios. Nineteenth-century binding with gilt tooled leather spine.

The title page features a woodcut in the centre with the arms of King Filipe II of Portugal inside an oval frame with volutes and plant motifs. Two-column printing, very clear in round characters, with some italics in quotations and marginalia, and with decorated initials with plant motifs at the beginning of each chronicle.

Copy with mounted title page, with stain next to the inner hinge from folio 161 to the end, with marginal stain from folio 238 to the end and small moth holes at the foot of folios 174 to 180. There is a marginal gloss on the crime of solicitation, crossed out in ink on folios 179 verso, underlining in ink on folio 181 and small tears with old restorations on folios 175, 176 and 217.

There are blank pages between folios 81 and 82, 134 and 135, 173 and 174. Folio 162 has 62, folio 178 was printed 172 and is corrected in a contemporary handwriting; folio 206 has 209 printed and is corrected on a small piece of paper glued to the side in the 19th century, which serves to reinforce a small restoration.

1st very rare and sought-after 16th century edition of a work of great historical and literary importance, which was reprinted in 1677 and in 1774.

The preliminary folios contain the licences with extensive approval from Friar Manuel Coelho and the errata. It includes the chronicles of Count Henrique, and kings Afonso Henriques, Sancho I, Afonso II, Sancho II, Afonso III, Diniz, Afonso IV, Pedro I, Fernando and an onomastic and subject index.

Considered one of the most important sources of information on the first kings of Portugal, it is now recognised as a work of historiographical value.

Before starting the chronicle of King Afonso Henriques, the author presents a long text in which he disputes all the facts attributed to the reign of the 1st King of Portugal that are not favourable to the king's image, including his conflicts with his mother and the Church.

Although he was once accused of copying chronicles by Fernão Lopes, this thesis is unfounded. On the contrary, Nunes de Leão cites a now lost chronicle by Fernão Lopes, about the reign of King Afonso III, to challenge the great chronicler's assertions, thus showing his independence.

Duarte Nunes de Leão (Évora, 1530? - Lisbon, 1608), of Jewish origin, was an important writer of the 16th century, author of a large number of works on history, orthography, law, geography and genealogy. He graduated in Civil Law from the University of Coimbra and later served as a judge in the House of Appeal. He defended Filipe II's rights to become king of Portugal, but was later poorly rewarded by the Philippine rulers, who persecuted him or allowed him to be persecuted, which can certainly be explained by the discrimination against New Christians that was rife at the time. His work basically covers three areas: law, history and linguistic studies. In the first area, he published several collections of works that he seems to have dedicated to the 1560s. In the field of historiography, he left us some interesting biographical and genealogical research on the Portuguese royal house, as well as one on the Description of the Kingdom of Portugal, dating from 1610. The third dimension of his work is perhaps the most important. Nunes de Leão published pioneering studies on our language. In 1576 he published an Ortografia da Língua Portuguesa (Orthography of the Portuguese Language), in which he assumed himself to be the founder of orthographic studies in our country. In 1606 he published Origem da Língua Portuguesa (Origin of the Portuguese Language). Other writings are known to have existed, particularly in the fields of lexicology and etymology, but they have been lost.

Referências/References:

Iberian Books nº 13757 (69576).
USTC, nº 345562.
D. Manuel II, 3º volume, nº 270.
Anselmo 523.
Azevedo e Samodães, 2247.
Monteverde, 3779.
Inocêncio II, 210-212.