Director: Fernando Luso Soares [e Vítor Silva Tavares]. Propriedade: Publicações Culturais Engrenagem. Lisboa. 1973-1974.

15 Números de 33,5x29,5 cm. Brochados. Profusamente ilustrados com fotografias, desenhos e gravuras a preto e branco, com capas a cores.

Este conjunto reúne os números 1 a 19, com falta dos números 2, 13, 14 e 16.

Esta segunda fase da revista teve 25 números publicados, quinzenalmente entre Janeiro e Outubro de 1973 e mensalmente entre Novembro de 1973 e Outubro de 1974.

A revista & etc marcou um período histórico importante em Portugal, especialmente durante os anos 60 e 70, caracterizado por mudanças sociais, políticas e culturais significativas. Emergiu como uma voz oposicionista, libertária e irreverente, aberta a novas correntes e estilos de pensamento, num contexto de agitação global, com eventos como o Maio de 68 em França, o movimento hippie nos Estados Unidos e as lutas pelos direitos civis e contra a guerra do Vietname. Em Portugal, o país enfrentava os desafios da guerra colonial e da ditadura salazarista.

A trajetória editorial da revista foi marcada por desafios enfrentados pela censura do regime, mas a sua influência e importância histórica só cresceram ao longo do tempo. Passou por duas fases distintas ao longo da sua existência. A primeira fase ocorreu entre Fevereiro de 1967 e Abril de 1971, quando a publicação era um suplemento literário do «Jornal do Fundão», dirigida por Vítor Silva Tavares. Nessa época, a revista era conhecida como «& etc..., Magazine das Artes, das Letras e do Espectáculo do Jornal do Fundão». A segunda fase teve lugar entre Janeiro de 1973 e Outubro de 1974, quando a revista se tornou independente e passou a se chamar «& etc, quinzenário cultural», mantendo a sua posição como uma voz crítica e independente na cena cultural portuguesa. Até ao número seis a direcção foi de Fernando Luso Soares, passando novamente para Silva Tavares a partir do sétimo.

Vítor Silva Tavares desempenhou um papel crucial na fundação e direção da «& etc». A sua visão era clara: criar um espaço para reflexão crítica e tratamento cultural de uma variedade de temas, desde análises literárias até moda e culinária. A revista rapidamente se destacou pela sua abordagem editorial, apresentando temas irreverentes e surrealistas, mas mantendo sempre um alto padrão de qualidade literária. As suas capas, verdadeiras obras de arte, refletiam essa combinação de conteúdo literário diversificado e qualidade visual impressionante.

Ao longo das suas duas séries de publicação, a revista atraiu uma série impressionante de colaboradores, incluindo escritores, artistas plásticos e cineastas renomeados. Entre eles estavam nomes como Alves Redol, Luiz Pacheco, António Gedeão, Maria Teresa Horta, Herberto Helder, José Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill, Ana Hatherly e muitos outros, todos compartilhando o compromisso com a liberdade de expressão e a qualidade artística.

Vítor Silva Tavares (Lisboa, 1937 – Lisboa, 2015), figura proeminente na cultura portuguesa do século XX, destacou-se como editor e escritor visionário. Tornou-se conhecido pela direção do suplemento literário do «Diário de Lisboa» nos anos 70, e também pelo seu papel como programador na editora Ulisseia. Como fundador e diretor da revista «& etc...», que posteriormente deu nome à sua própria editora, demonstrou ousadia editorial ao desafiar a censura do regime salazarista. A sua visão de contracultura e o compromisso com a liberdade de expressão deixaram um legado duradouro na história da literatura e da arte em Portugal.